quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Efeitos imediatos do Orap

Orap é uma droga que atua wsobre os efeitos negativos da doença bipolar. Crônica, às vezes degenerativa.

No meu caso, misturada com uma dose de histrionismo, fica bem difícil aferir o que é atuação do que é sintoma da bipolaridade.

O certo é que, seja por efeito placebo, seja por efeito real, eu estou me sentindo, ás 00:21 do dia 26/02/2015, muito bem. Não aquele bem demais descompassado eufórico, mas um bem demais esperançoso. Advogado, cantor de coral, pai de família, morador de um lugar digno de habitar....

A paciência, essa carrasca de quem é ansioso, deve ser minha companheira. Aliás, eu entendo bem de paciência estou esperando há mais de 17 anos o tal de ficar bem, idealizado, aquele que nunca chega. Vou substituí-lo por esse, esse que sinto examtamente agora, sem idealizações, apressado, urgente, com medinho de que acabe.

E tá acabando, o sono tá vindo, será que a empolgação continua amanhã? Será que eu vou arrumar a casa, tratar com ainda mais respeito a minha família, cuidar do meu corpo?

Veremos. Com muita esperança no prognóstico preconizado pela Naidel e pelo Marcelo. Tenho certeza de que pela Ana também.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

É minha!

Não sei quem tirou o direito de propriedade. A carência é minha. Eu sou carente. Não é culpa da minha mãe, do meu pai ou da minha noiva, tampouco da terapia que não teria alcançado um grau de eficiência razoável.

A carência é minha e tenho posse dela. Só eu posso abrir mão dela, ninguém pode imputá-la em mim como se eu fosse um mero observador.

Se alguém me deixou em cacos, ou alguéns, esses alguéns não tinham responsabilidade sobre a fragilidade do material que vinham utilizando.

O caleidoscópio que vem se formando a partir de pedaços de cacos de vidro justapostos de maneira às vezes aleatoria, sometimes proposital, tem gerado imagens assustadoras, mas recentemente tem gerado imagens mais amenas.

E tenho fé de que gerará imagens estupendas, obras de arte.

Tanto vazio assim é como se fosse uma obra de Van Gogh no início.

Acredite, a tela de Van Gogh também já foi vazia um dia.

Tenho, portanto, jogo. Tenho jogo e jogo não apenas com as palavras, mas jogo também com as experiências de vida.

É formidável estar vivo, é fantástico ter essa experiência, mas minha angústia de morte tem de ser remediada.

É ela que me faz ficar parado. A possível morte de um ideal faz com que eu não consiga aceitar o nascimento do novo, do inusitado. Como vou fazer Direito se não estiver disposto a enfrentar professores chatos, ou a não me punir os dias que eu faltar, ou as notas baixas que certamente virão?

Falava sobre jogo mas não costumo me jogar muito não. Ou me jogo em lugares sem equipamentos de segurança necessários.

Mas se a tela de van gogh um dia já foi vazia, o que eu quero pintar? não dá pra arriscar colocando cores aleatórias de jeito aleatrótio tem que ter técnica, tem que ter uma noção de onde se quer chegar.

Tem que conhecer bem os instrumentos que se tem na mão.


Gregório III

Faltam palavras. Sei que não há alternativas a dor. Aliás, há. Mais dor. Então, só cuidados paliativos. O ideal de viver momentos felizes quando não há problemas ao se executar o teste da realidade morreu. Meu luto não acaba. Parece melancolia. Talvez seja. Não posso nem ao menos tentar me apropriar do conceito de melancolia pois eu, para ser observador de mim mesmo, precisaria tomar uma distância, o que é inconcebível. Ainda mais inconcebível pois me levo muito a sério e fico mais próximo do meu núcleo.

Sei que a felicidade está ali, à espreita. Para ser a feliz caça dela, não se pode teorizar. E um ex-estudante de Física e contumaz leitor de psicanálise o que mais faz o tempo todo é teorizar. Sobre tudo.

Faltam palavras. Sentir seria a solução, mas sentir o quê? O presente, dizem. Sinto, isso sim eu sinto, que é verídica a informação de que há um deleite no sofrer. Me acalmo falando acerca do meu sofrimento. Fico horas contando cada crise, com minúcias tão difíceis de serem recordadas por um ser vivo que parece invenção de um escritor.

Talvez um dia eu venha a ser valorizado pela minha escrita, e os teóricos da teoria do reconhecimento das escolas criminalistas ficariam felizes por ver menos um chamando a atenção de formas nada prosaicas.

Chamei a atenção de diversas maneiras. O amálgama dos retalhos da minha identidade não é muito forte. Eu permaneço. Estou preso a um corpo que envelhece, uma mente que começa a se esquecer de senhas, uma idade que aumenta e aumentam as responsabilidades de adultos.

E, mesmo preso, imóvel, presa fácil, a felicidade prescinde de me atacar. Não almejo os desvarios de uma euforia inacabável, só o sossego estampado nas faces dos trabalhadores ao cumprir sua jornada de trabalho.
Eu, quiçá um dia merecedor desse deleite, hoje tenho sérias dificuldades para dormir.
O esforço é muito. As conquistas, várias. O sentimento de conquista zero. Iniciei a escrita de um livro chamado depois da curva, no qual uma estrada feia, perigosa, após uma curva, daria lugar a uma vida interessante.
A felicidade não é jogo ganho. Estar bem deve ser relativizado e o estranhamento desse desconforto atual talvez passe. Não é direito adquirido o bem-estar.
Quais pistas poderiam me levar ao caminho da felicidade? Disse que sou presa fácil, talvez a felicidade não goste de presas fáceis. Como fazer pra ela me visitar mais vezes? Metas cumpríveis, passo a passo, tijolo por tijolo. Sei de tudo isso, e pra mim não funciona.
Gostei muito do sentimento que me invadiu em meados de 2014. Não achei ruim, ele se mesclou com outros e dei conta. E agora? O que me impede de seguir em frente? Quais sentimentos justapostos estão em conflito blindando o ataque da felicidade?
Controle, tentativa de. Ferrenho inimigo e predador da felicidade. Mas o que minha mente vêm controlando? Controle do momento que chegue o final da convalescença. Mas estive de fato doente? Ou a doença era tentar controlar os resultados da minha atitude impulsiva? Então ainda estou doente. Enxergando a longo prazo, sem pensar em sedimentar o presente. Sobram palavras. Falta a que acabe com o ideal, com o controle. Não posso ser o Gregório III.