quarta-feira, 25 de junho de 2014

Deus morreu

E foi o homem quem o matou. Agora, que pague o preço por não precisar mais ficar anestesiado. Agora, a Deusa Ciência entrou com força para suprir a brecha. Em vão. Por mais inovações tecnológicas que tenhamos, não é possível abrir mão de uma hora no dia para o deleite do ócio - criativo ou meramente perfunctório.

Era mais fácil de seguir um caminho. Agora, também é fácil. Agora, passa seguirmos a risca as orientações para sobrevivermos com uma rotina massacrante e temos como recompensa a certeza fútil de dever cumprido.

Única certeza. O direito a dúvida foi menosprezado ao extremo, a não ser em busca de novas certezas peremptórias. O destino continua existindo, continua firme e forte o desejo pela imortalidade, dessa vez terrena.

Com o risco de ser classificado como neoclassicista, os deuses gregos me pareciam mais instigantes, mais próximos de nossas paixões.

E hoje Sísifo me atormenta. Novamente, a pedra está no cume da montanha. E só resta o caminho oposto, não há como fugir de repassar por caminhos antes percorridos. O que muda é minha mentalidade de enfrentar o trecho repetido da montanha escolhido para a descida. Ficar no topo é frio, tem pouco oxigênio e a vista apesar de bonita é solitária.

Preciso recorrentemente desses ares. Mas agora cansei. Já me embriaguei da vista cá de cima. Hora de descer.

Aliás, isso o mito não conta, para os que tem fôlego e gostam de aventuras, há centenas de outras montanhas. Dominadas ou habitadas por outros deuses, deusas, semi-deuses e humanos.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Sereníssima

Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo

O restante da letra não condiz ao que sinto agora; o título, entretanto, me remete a minha nova perspectiva como ser humano.

Buscava muito certeza para meus caminhos, e, como isso não existe, eles só poderiam ser tortuosos. Enquanto buscar fazer as coisas do jeito idealizado remete a sofrimento incessante, fazer o possível, admitindo o erro não como um desvio de caráter, é o que chamo de serenidade. Não inibe o sofrimento, noites mal dormidas, tampouco quilos engordados, mas entram palavras-irmãs como responsabilidade, maturidade.


Hoje é um dia especial pelo encerramento de um ciclo. Imperfeito. Deveria ter terminado de escrever um livro. Well, esse sítio é fruto da tentativa de escrever aquele livro que nunca será impresso. Ainda que não tenha nada encadernado, os últimos trezentos e sessenta e cinco dias, para mim, foram uma trilogia.

Estou longe do que almejo. Ainda tento controlar muitas situações, acredito veementemente na mentira de que não posso dar conta de mim mesmo.

Tenho a mente bem acelerada. Isso não é uma característica exclusiva de pessoas em estado de euforia. Isso me ajuda a perder o foco, por isso me saio melhor em conversas escritas do que faladas. Numa fala é fácil de perder a linha de raciocínio, já a escrita me proporciona o retorno óbvio do foco pela possibilidade de reler o que já passou. Ainda assim, foco não é o meu forte.

A crítica em excesso sobre meu jeito acaba podando o processo artístico. O olhar é tão fixo que padece de comparações com o mundo real, tendo como referências apenas um ideal, além de intangível, pobre de significações. Claro que perco o foco. Claro que sou crítico. Mas tenho habilidade de escrever que muitas pessoas não tem. Domino português a ponto de subverter algumas regras sintáticas com o intuito de dar fluidez ao texto. Tal qual o estacato e ligado na música, uma frase, um período, um parágrafo podem ser  prolongados ou interrompidos.

Onde eu quiser.

A serenidade é saber, de antemão, que não somos culpados pelas desventuras. Não devemos nada a nós mesmos. Podemos recomeçar, se nos for dada a oportunidade. Senão fazemos novos começos. Podemos falar chavões porque nem todo texto é composto de ideias originais. Repetir? Podemos! Porque a vida é composta de muitas elaborações através do infinito exercício da repetição.

Infinito enquanto durar. Serenidade até em aceitar o fim. Os fins. O fim de uma noite maravilhosa em família (família coral da UFRGS), o fim de um dia em que houve a aproximação mais efetiva com o chefe no trabalho, em que houve a retomada do não! ao refri "normal" (como se isso existisse!), em que houve a retomada da escrita, o fim súbito mas gratificante de um texto...

FIM.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Desafio

Metaescrita, psicologia, música, amor, trabalho... E, se eu fugisse desses temas recorrentes?

Ficaria sem assunto...

Talvez dissesse dos lugares que ainda tenho que viajar. Da família que quero formar. Das histórias de amizade que quero viver e que já estou vivendo.

Talvez um evento cotidiano teoricamente banal ganhasse contornos estéticos. Um simples protesto me remeteria ao meu tempo de militante político. Uma buzina emperrada de um ônibus desse uma crônica de humor.

Mas minhas dificuldades de me desvencilhar aos preciosos temas já referidos me fazem emperrar a continuidade dessas tentativas - pelo menos por enquanto.

Há coisas na vida que tem de ter uma constância. Na arte, podemos variar... Por hoje, vou fazer o feijão com arroz, mesclando o que sempre fiz, mas com um desafio em mente. Escrever mais sobre mais temas.