segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sessenta

O silêncio tem uma função. Durkheim explicaria melhor que eu. O lapso que separa um post de outro não significa necessariamente que não se tem nada a dizer. Tampouco que a vida está tão magnificamente boa que "ah, vou viver em vez de escrever".

O suposto "branco" a cada vez que se senta a frente do computador e se tenta tirar uns minutinhos pra falar algo quer dizer algo.

Auto-sabotagem?? Provavelmente.

Idealmente, era pra eu dizer o que se passava de bom e de ruim mas que significasse algo, no fim, que me fortificasse ao passar dos 365 dias.

Bom, posso dizer que o silêncio me ensinou muito. Sobre a vontade de falar. E de parar de idealizar em ter a escrita adequada, em esperar ler os livros necessários para se ter uma escrita eloquente, fluida, palatável, limpa.

Às vezes, como em diversos blógues construi essa metáfora, a escrita tem a função de vômito: quente, fétida, desagradável, mas de alívio, sintomática.

Meus rompantes de fúria, descrença, paixão (pathós e passio), falta de paciência, desespero, podem ser traduzidos pela desconexão entre um post e outro. Aliás, eles são conexos por uma linearidade não tão evidente à primeira vista. Os objetos tratados, apesar de serem diversos, possuem uma característica em comum. São todos idealizados ou execrados.

Nada de meio termo.

Ou oito ou oitenta. Ou mania ou depressão. Nada de entre meios. Era a espera constante por esses dois extremos. O dia especial. Os 365 dias especiais. Idealizado.

Nem sempre se tem algo a dizer? Duvido que na vida de alguém não haja nada, transcorridas 24 horas, de interessante a ser comentado.

Obviamente, o daltônico não enxerga as matizes diversas de todas as cores. Isso não quer dizer que elas não existam.

Agora, como posso justificar pra mim mesmo que o ano não foi nem tão bom quanto eu imaginava, mas também não foi tão ruim como eu queria?? E aí deixo de propósito o meu ato falho imediato sem corrigir, pois é justamente o que eu queria! Justificar que eu era incapaz de ainda mais uma coisa por mim mesmo proposta. O blógue, um por dia.

Nem sempre vou ter inspiração. Mas a proposta do blógue era registrar os momentos bons para que se contrapusessem à ideia de que só há sofrimento constante em miha vida.


Tenho ao meu lado duas mulheres maravilhosas, uma em formação e que eu ajudarei a formar. Outra, já crescidinha, aprendi a cuidar dela hoje mesmo. O significado da palavra amor só se aprende da maneira mais díficil de todas elas, da menos óbvia possível, da com mais sobressaltos possível e da nem sempre gratificante (ao menos imediata) forma: amando.

Tem coisas, que só pra viver vivendo. E sinceramente, não queria ter que terminar esse post assim, mas o sono tá pegando e a tristeza em não dar continuidade a uma sequência argumentativa tão clara também.

Mas, como aprendi com meu amor, não precisa ser oito nem oitenta. Com sessenta se passa por média e não se sofre tanto com o aprendizado. Portanto, termino de escever com a missão cumprida, não tão comprida mas, sobretudo, desidealizada.